Propriedades bioativas de formulações hidrofílicas de curcumina: aplicação em iogurte
Artigo de Conferência
Visão geral
Visão geral
resumo
A curcumina tem reconhecidas propriedades bioativas e corantes. Porém, a sua aplicação em produtos
alimentares é dificultada pela sua baixa solubilidade em meios hidrofílicos. De forma a ultrapassar esta
limitação, foram preparadas nanopartículas de poli(vinil-pirrolidona) (PVP, 40.000g/mol)/curcumina com
base na técnica de dispersão sólida, utilizando Tween 80 como estabilizante e etanol como solvente. As
nanopartículas foram caracterizadas quanto à morfologia (microscopia eletrónica de transmissão)
indicando forma esférica e tamanho (dispersão dinâmica de luz) com índice de polidispersão =
0,050±0,009 e diâmetro médio em intensidade = 377±15 nm. As propriedades térmicas (análise
termogravimétrica, TG), interações químicas (Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de
Fourier, FTIR). As análises por TG revelaram que as nanopartículas não apresentaram perda de humidade
(não se observou nenhuma transição antes dos 100 ºC), justificada pelo facto de os pontos de ligação da
PVP à água terem dado origem a interações com a curcumina na sequência da encapsulação [1]. A análise
por FTIR comprovou este facto dado a ausência da banda característica a 3510 cm-1 na zona do
estiramento dos OHs.
As propriedades bioativas (atividade antioxidante, atividade anti-inflamatória e citotoxicidade) das
nanopartículas de PVP/curcumina (NC) foram comparadas às da curcumina pura utilizada no
procedimento de nanoencapsulação (PC) (Sigma Aldrich) e às de uma amostra comercial dispersável (DC)
(CHR Hansen, Vegex Tumeric WS5). Os valores de EC50 (μg/mL) para a atividade antioxidante (DPPH,
poder redutor, β-caroteno e TBARS) evidenciaram o seguinte perfil de atividade: PC>NC>DC,
similarmente à resposta anti-inflamatória (concentração responsável por 50% da inibição da produção
de óxido nítrico em comparação com o controlo negativo). Quanto à citotoxicidade, a PC revelou uma
atividade superior em todas as linhas celulares, tendo os valores de GI50 (μg/mL) indicado atividade
NC>DC apenas nos casos das linhas HeLa, HepG2 e PLP2 e indistinta nas MCF-7 e NCI-H460.
Na etapa seguinte, as formulações PC, NC e DC foram aplicadas em iogurtes, para os quais se avaliou o
perfil nutricional (humidade, cinzas, gordura, proteínas, hidratos de carbono e energia) e os parâmetros
de cor (L*, a* e b*) ao longo do tempo de armazenamento (TA = 0, 7 e 15 dias, 4 ºC). Independentemente
de TA, os iogurtes com DC apresentaram os teores de cinza, gordura, energia e L* superiores, enquanto
os valores a* e b* foram superiores para os com PC. O teor máximo de proteína foi registado para os
iogurtes com NC e o teor máximo de hidratos de carbono para as amostras controlo. Quanto a TA, as
amostras armazenadas durante 7 dias caracterizaram-se por teores superiores de proteína, cinza (tal
como as amostras armazenadas durante 15 dias), hidratos de carbono e energia, enquanto as amostras
analisadas no dia de preparação registaram os valores mais elevados para gordura e a*. O efeito do
tempo de armazenamento não foi significativo nos parâmetros L* e b*.
Em síntese, e apesar de se terem observado algumas diferenças significativas nos indicadores nutricionais
e parâmetros de cor, pode concluir-se que as nanopartículas de PVP/curcumina são uma boa estratégia
para coloração do iogurte, não se tendo registado sem alterações relevantes do seu valor nutricional e
aparência. Adicionalmente, e dado a bioatividade evidenciada, a sua utilização resultará em benefícios
adicionais não conseguidos com a PC (baixa solubilidade em meio hidrofílico).