Análise cromatográfica de ácidos orgânicos em cogumelos silvestres comestíveis do Nordeste de Portugal: validação de uma técnica de UFLC-PDA Artigo de Conferência uri icon

resumo

  • Na Península Ibérica as verduras (silvestres ou tradicionalmente cultivadas) têm sido alimentos importantes na dieta humana. O valor nutricional de verduras e os seus benefícios para a saúde têm sido reconhecidos como importantes alvos de investigação. Os grelos, inflorescências da couve-nabo (Brassica napus L. var. napus) e os espigos, inflorescências da couve-tronchuda (Brassica oleracea L. var. costata DC.) são exemplos de espécies tradicionalmente cultivadas e amplamente consumidas nas regiões do Norte de Portugal. Neste trabalho, avaliou-se a composição nutricional e o potencial nutracêutico, nomeadamente antioxidante, das espécies mencionadas anteriormente. O valor nutricional foi determinado através dos índices de lípidos, proteínas, cinzas e glúcidos, tendo sido também calculado o seu valor energético. A caracterização nutracêutica incluiu a determinação de antioxidantes hidrofílicos (ácido ascórbico, fenóis, flavonóides e açúcares), lipofílicos (carotenóides, clorofilas, tocoferóis e ácidos gordos). As propriedades antioxidantes foram avaliadas por métodos químicos e bioquímicos [1]. As duas variedades de Brassica estudadas mostraram ser verduras nutricionalmente equilibrados, em particular os espigos que mostraram conter teores mais elevados de humidade, proteínas, energia, lípidos, β-caroteno e vitamina C. Os grelos revelaram maiores teores de cinzas, glúcidos totais, açúcares livres (incluindo frutose, glucose, sacarose e rafinose), ácido gordo n-3 essencial, ácido α- linolénico, as melhores razões PUFA/SFA e ácidos gordos n-6/n-3, tocoferóis, licopeno, clorofilas, fenóis, flavonóides, apresentando também mais propriedades antioxidantes. Os benefícios para a saúde inerentes ao consumo destas duas espécies estão associados às suas propriedades antioxidantes, reforçando desta forma, a sua inclusão em dietas saudáveis e equilibradas. Este trabalho enfatiza o interesse do consumo de espécies tradicionais, validando a sua utilização empírica, mas também conferindo valor acrescentado a estes produtos, incluídos desde há longa data no receituário gastronómico regional.
  • Os cogumelos são uma excelente fonte de compostos antioxidantes nomeadamente tocoferóis, ácido ascórbico, carotenóides, compostos fenólicos e ácidos orgânicos. Estes últimos compostos desempenham um papel importante na manutenção da qualidade e características organoléticas de frutos e vegetais e, por isso, têm sido utilizados no controlo de qualidade dos mesmos. A natureza e a concentração dos ácidos orgânicos são também fatores importantes no sabor dos cogumelos. Mas, alguns deles (p. ex. ácidos tartárico, málico, cítrico ou succínico) podem também desempenhar um papel protetor contra várias doenças crónicas devido às suas propriedades antioxidantes, quelatando metais ou deslocalizando a carga eletrónica de radicais livres. Neste trabalho, avaliaram-se os perfis em ácidos orgânicos de diferentes espécies de cogumelos comestíveis do Nordeste de Portugal, após extração com ácido metafosfórico e análise por cromatografia líquida ultra rápida e deteção por fotodiodos (UFLC-PDA). A separação cromatográfica dos compostos foi conseguida com uma coluna de C18 em fase reversa SphereClone (Phenomenex) e eluição isocrática com ácido sulfúrico (3,6 mM) a um caudal de 0,8 mL/min. Todos os compostos foram separados em 8 minutos. A validação do método de análise foi feita com uma amostra de Agaricus bisporus e provou ser reprodutível e preciso. Os perfis de ácidos orgânicos obtidos foram similares para todas as espécies de cogumelos estudadas: os principais ácidos orgânicos encontrados foram os ácidos oxálico, málico e fumárico; algumas espécies apresentaram também os ácidos quínico e cítrico. Sarcodon imbricatus foi a espécie que revelou uma maior concentração de ácidos orgânicos (254,09 mg/g massa seca), enquanto a espécie Bovista nigrescens apresentou a concentração mais baixa (1,33 mg/g). O elevado teor de ácidos orgânicos encontrado pode sugerir que estes compostos podem estar relacionadas com a atividade antioxidante destas espécies já descrita na literatura, nomeadamente pelo nosso grupo de investigação.

data de publicação

  • setembro 2012