Exortar a esperança em tempos de crise
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Visão geral
resumo
As religiões são produtos das culturas que,
auxiliando-se de vários mecanismos sociais e
políticos. deram origem a um conjunto de manifestos
espirituais. Entre as várias devoções, a Virgem Maria
merece especial destaque na cultura portuguesa,
desde o dealbar da nacionalidade. com as célebres
cantigas de Santa Maria, de Afonso X: acompanhou
a história homens. sendo palco de grandes
manifestações de fé e oração. É de antanho que o
povo, para enfrentar as dificuldades, sobretudo os
momentos de crise frumentária, epidémica, entre
outras. Lhe suplica auxílio e proteção.
Após o Concílio de Éfeso, no século V. a Virgem
Maria - Mãe de Jesus e Mãe da Igreja- assumiu um
papel central na cristandade, enquanto Mãe dos
desprotegidos. reorganizando-se as formas de
perceção devocional. Esta nova conceção de
entender a Virgem foi reforçada no século XVI. Com o Concílio de Trento. surgindo. a partir de então, novas formas de divulgação da doutrina. As novas diretrizes tiveram forte eco em Portugal. tendo sido um dos primeiros países a adotar e a integrar, no corpo legislativo nacional. os decretos conciliares tridentinos. Confirmados, em 26 de janeiro de 1564, pelo Papa Pio V, na bula Benedictus Deus, ao tempo da regência do cardeal D. Henrique. pela menoridade de D. Sebastião. Os decretos foram publicados primeiro em latim e. logo de seguida. em vernáculo.
A celeridade e a anuência foram tais que. mesmo
antes do Concílio terminar e de os respetivos decretos entrarem em vigor. foram divulgadas algumas súmulas tridentinas.
Desde então, a Igreja pôs em marcha um
poderosíssimo aparelho de propaganda religiosa,
enaltecendo os poderes da Virgem e maravilhando o povo com parca formação académica, que se mantém até à atualidade. A circunstância de se tratar de pessoas simples, cultural e socialmente, inibia, à partida, toda e qualquer presunção de haverem planeado uma ação estratégica visando fomentar as devoções marianas.
Os cultos religiosos são composições complexas que auxiliando-se de vários mecanismos sociais e políticos deram origem a um conjunto de manifestos espirituais essenciais para o sentimento de felicidade individual e/ou coletiva; unidos por uma matriz figurativa comum, poderosa nos seus desígnios, exortam a esperança de quem os procura.
Apesar da ambiguidade do tema e da dificuldade de se fazer um juízo cabal, vários investigadores, dentro e fora de Igreja, têm observado de que forma os indivíduos intercedem junto dos Santos e/ou da Virgem à procura de soluções para as adversidades quotidianas não arriscando em explicações e interpretações de caráter concludente. A devoção mariana a Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, é disso exemplo. Instituída sob o ideário do Concílio de Trento (1545-1563) contribuiu sobremaneira para que o povo, ao longo do tempo, padecesse junto Dela todo tipo de mágoas; a Igreja pôs em marcha um poderosíssimo aparelho de propaganda religiosa, enaltecendo os poderes da Virgem e maravilhando o povo que, com parca formação académica, aceitava as diretrizes. A circunstância de se tratar de pessoas simples, cultural e socialmente, inibia à partida toda e qualquer presunção de a Igreja ter planeado uma ação estratégia, visando fomentar as devoções marianas, independentemente das roupagens. O seu potencial foi tão evidente que cinco séculos volvidos, a Nossa Senhora dos Remédios mantem-se como um dos elementos mais significativos da comunidade de Lamego.
Para se perceber melhor as motivações foi aplicado um inquérito por questionário, no dia 08 de setembro, aos indivíduos que participaram na festa em honra de Nossa Senhora dos Remédios, nos anos de 2007 e 2009. Com a informação recolhida poderão evidenciar-se algumas linhas interpretativas sobre os intuitos individuais.