A oliveira (Olea europaea L.) é uma planta típica do Mediterrâneo, região na qual se
encontra perfeitamente adaptada, e onde apresenta uma enorme importância económica,
social e paisagística. Esta planta é atacada por diferentes fitófagos que podem prejudicar
o seu desenvolvimento e produção. No agroecossitema olival coexiste uma grande
diversidade de artrópodes que prestam importantes serviços ecossistémicos como a
predação de organismos praga. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a
comunidade da ordem Araneae e Coleoptera, ao nível taxonómico de família, no olival
transmontano bem como comparar a diversidade funcional entre áreas do olival e áreas
adjacentes de mato mediterrânico. A amostragem dos indivíduos decorreu nos meses de
maio e junho de 2015 e 2016 em quatro áreas da região de Mirandela (Nordeste de
Portugal). Em cada área de olival e mato adjacentes, foram utilizadas nove armadilhas
de queda, com desenho de grade e substituição a cada sete dias. Os artrópodes
capturados foram triados, e as aranhas e coleópteros identificados até o nível
taxonómico de família. Ao longo dos dois anos de estudo, na ordem Araneae foram
capturados 6984 indivíduos pertencentes a 26 famílias, dominando as Lycosidae,
Gnaphosidae e Zodariidae, com grande predominância de guilds relacionados com o
solo. Verificou-se uma baixa complementaridade entre as áreas de olival e mato em
termos de famílias. A maior abundância e riqueza de famílias foram observadas nos
olivais, não se observando contudo diferenças significativas na diversidade (1-D) entre
ambos os ecossistemas quer em termos de famílias quer de guilds. Relativamente à
ordem Coleoptera, foram capturados 4742 indivíduos agrupando um total de 25
famílias. As famílias mais abundantes foram Anthicidae, Staphylinidae e Scarabaeidae,
e as menos Buprestidae, Cleridae e Ripiphoridae. A abundância total foi significativente
superior nas áreas de olival em 2016, enquanto a riqueza de famílias foi
significativamente superior nas áreas de olival em ambos os anos de estudo, não
havendo diferenças na diversidade (1-D). A complementaridade entre áreas (mato e
olival) foi baixa em ambos os anos de estudo refletindo comunidades semelhantes em
termos de famílias. Quer nos olivais quer nas áreas de mato adjacente as famílias
identificadas foram na sua maioria predadores, o que sugere que as áreas seminaturais
adjacentes podem atuar como refúgio temporário para as aranhas e coleópteros perante
perturbações originadas por práticas agrícolas nas áreas de cultura. Os resultados
sugerem também que as áreas adjacentes são fonte de diversidade fornecendo recursos alimentares alternativos quando estes escasseiam no olival. Desta forma, a manutenção
e conservação destas áreas seminaturais adjacentes à cultura podería contribuir para a
limitação natural de pragas exercida pelas aranhas e coleópteros no agroecossistema
olival.