O quadro climático global passou por mudanças evidentes ao longo dos últimos anos e previsões futuras continuam a alertar para panoramas de alteração. Um dos elementos persistentes nos cenários desenhados para este contexto é o aumento da variabilidade das condições de tempo com prolongamento de períodos de seca e, em oposição, a ocorrência de extremos acusados de precipitação, geradores de processos erosivos. Tal poderá afetar severamente as zonas mais secas, como é o caso de boa parte do NE de Portugal, que tem a erosão como ameaça presente. Não estão ainda bem descritos e compreendidos os efeitos de períodos prolongados de seca na resposta erosiva às primeiras chuvadas que se lhes seguem. Perante esta problemática, o desenvolvimento deste trabalho envolveu a caracterização de períodos de seca e de aridez, bem como a sua relação com a degradação do solo, especialmente a erosão hídrica. Para tal, foram confrontadas as classificações climáticas da Carta de Solos e do Índice de Aridez (AI) para NE de Portugal e foi realizada uma análise de tendências de erosividade e eventos extremos por meio do SPI (Standardized Precipitation Index), AI e normais climatológicas, com base em dados meteorológicos e material cartografado. A avaliação da resposta erosiva do solo às primeiras precipitações após um período prolongado de secagem foi realizada por meio de simulador de chuvas, sendo duas chuvadas de 30 min cada com intervalo de 1 h entre as simulações, aplicadas à 5 Unidades de Solos representativos do NE. Com a premissa de que a erosão reduz a espessura dos solos e, em consequência, a sua capacidade de armazenamento, também foi realizado um estudo estatístico de regressão entre a humidade do solo (SM), com origem em sensores de satélites, e a variável armazenamento (A) do balanço hídrico, obtidos com dados terrestres de estações meteorológicas.
As classificações climáticas são coerentes e convergem, sendo que a terra quente e o semiárido são mais influenciados pelo regime de pluviosidade. A análise de tendências das precipitações demonstra uma redução na média ao longo da evolução no tempo, e é coincidente para a situação de aumento da erosividade das precipitações nas zonas mais áridas. SPI e AI apontam para uma maior frequência e pronunciamento de eventos extremos, com aumento das condições de aridez. As simulações de chuvas demonstraram que o teor de humidade inicial do solo quando submetido as primeiras precipitações é condicionante das perdas de solo e de água pela erosão hídrica. Verificou-se que o efeito das primeiras precipitações não se reflete necessariamente em maiores perdas de solo por escoamento, mas sim, numa maior concentração de sedimentos e perdas por salpico. A relação entre SM e A é constatada, com r² que variam entre 0,69 e 0,94, sendo o modelo logístico e a condição de Amáx = 50 mm tendencialmente melhores dentre os cenários testados. O constrangimento encontrado foi o incremento do erro padrão da estimativa conforme aumento de Amáx, comportamento que pode ser objeto de esforços futuros. A capacidade dos dados remotos de representar os fenómenos de secagem e humedecimento pelo modelo histerese revela a sensibilidade e o potencial dos dados SM como ferramenta de previsão e monitoramento.