A obra ‘Fait-diverre’ é uma metáfora da democracia. Um artefacto que a dramatiza expondo as suas fragilidades e que propõe o alcance do sentar, através da chegada ao poder, associado a um telhado de vidro ou neste caso a um assento de vidro. O desenho desta obra parte da reinterpretação do cartaz de 1974 da autoria de Sérgio Guimarães, com a criança, a arma e o cravo da revolução e que faz parte de uma seleção “A Vida Portuguesa” para comemorar o 25 de Abril. Através da reconfiguração de uma cadeira metálica semiabandonada reconvertendo a função do seu assento numa jarra de vidro que recebe um cravo, agora mais desbotado e que necessita de suporte de vida, coloca-se em causa a conduta do ser e sacraliza-se o momento da revolução e da liberdade de Abril. Esta homenagem à democracia, coloca em causa o seu abuso, a sua transparência ou credibilidade, assim como o seu modo e função. Sentimos neste objeto a fragilidade que testemunha a democracia e a ênfase do alcance associado ao ato ‘maquínico’ do querer sentar sobre qualquer matéria. Assume-se também como um tributo ao ‘saber fazer’, experienciando a ‘manualidade’ da exploração do vidro e da sua plasticidade criando uma atmosfera única de criação. Tem também um duplo significado criando um jogo de palavras entre um facto ou assunto pouco importante e algo que é feito de vidro.