Os estudantes PALOP face à sensibilidade intercultural Artigo de Conferência uri icon

resumo

  • Neste estudo adota-se o modelo de competência comunicativa intercultural (Chen & Starosta, 1996), o qual consagra três dimensões, a saber: consciência cultural, habilidade intercultural e sensibilidade intercultural. O foco desta investigação é a sensibilidade intercultural, a qual corresponde à dimensão afetiva, englobando o desejo emocional de uma pessoa de reconhecer, apreciar e aceitar as diferenças culturais (Chen & Starosta, 1996, 1997, 2000; De Santos, 2018). Sendo as práticas de mediação intercultural ferramentas imprescindíveis num contexto de ensino superior cada vez mais plural, o estudo da sensibilidade intercultural dos estudantes assume especial relevância. Este estudo tem como objetivos: (i) conhecer o nível de sensibilidade intercultural dos estudantes; e (ii) contribuir com propostas de ações que desenvolvam a sensibilidade intercultural no ensino superior. Foi desenvolvido um estudo quantitativo, transversal, exploratório e correlacional numa amostra de conveniência. Participaram 76 estudantes PALOP (42,11% santomenses, 35,53% guineenses e 22,37% caboverdianos), dos quais 7,89% são estudantes-trabalhadores, na sua maioria do sexo feminino (69,74%), com uma média etária de 21,86 anos. Para a recolha de dados recorreu-se ao inquérito por questionário composto por questões sociodemográficas, alusivas à frequência de interação com pessoas de outras culturas e ao domínio de outras línguas e à escala de Sensibilidade Intercultural (Chen & Starosta, 2000), traduzida para a língua portuguesa por Gonçalves (2010), na base da adaptação de Vilà (2005). Constata-se uma avaliação global da sensibilidade intercultural no nível médio-alto, com a seguinte ordem decrescente nos fatores que compõem a escala: Respeito pelas Diferenças Culturais, Atenção na interação, Envolvimento na interação, Satisfação na Interação e Confiança na interação. De salientar ainda que os níveis de sensibilidade intercultural não diferem em função do sexo e da idade dos estudantes, nem da frequência de interação com pessoas de outra cultura no contexto escolar. Contudo, o domínio de outra língua é um elemento diferenciador, sendo notório que os estudantes com domínio de outra língua que não a materna evidenciam maiores níveis de sensibilidade intercultural, sentem-se mais confiantes e estão mais implicados na interação com pessoas de outras culturas. Considera-se que, num contexto do ensino superior cada vez mais multicultural, a efetiva transformação educativa e social requer a aprendizagem da proeficiência linguística próxima da do falante nativo, mas também o domínio das habilidades necessárias para um uso eficaz destes conhecimentos linguísticos em contextos diversos. Considera-se que a diversidade cultural per si não é uma condição suficiente, sendo necessário atender às particularidades culturais, sem descurar as questões relativas ao poder, às estruturas institucionais e práticas culturais, de forma a que a diversidade cultural contribua efetivamente para o sucesso da experiência e a construção do sentido de comunidade e pertença.

data de publicação

  • janeiro 1, 2022