O ciclo de um baldio: uso, expulsão e abandono
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resumo
Este trabalho visa descrever um caso paradigmático de utilização de um baldio e do relacionamento das populações e do Estado com estes espaços ao longo da segunda metade deste século.
Com base numa série de fotografias aéreas a intervalos médios de 10 anos, faz-se uma análise da evolução do uso da terra, no decurso dos últimos 50 anos, no baldio de uma aldeia a norte do concelho de Bragança. Esta informação é complementada a partir de outra informação de base geográfica, de observação de campo e de inquéritos. Foi assim possível reconstituir a história da utilização do baldio neste meio século, da qual ressaltam três traços dominantes: uma primeira fase de utilização intensiva do baldio, que se acentua até finais dos anos 50. Uma segunda fase de intervenção musculada do Estado nestes espaços, expulsando as populações do baldio através da florestação imposta. Esta fase inicia-se em finais dos anos 50 e culmina já nos anos 70 com a florestação quase total do baldio. Por último, a partir de 74, a devolução dos baldios às populações, coincide com uma desarticulação entre os modos de utilização da terra e de vida e o uso florestal do baldio. Gradualmente abandonada pelo Estado, a floresta no baldio vai-se degradando por falta de cuidados de manutenção e, nos últimos 5 anos, o fogo encarregou-se de devolver os matos a estes espaços.
Completa-se assim um ciclo: o coberto vegetal numa fotografia de 47 e numa de 99 é globalmente semelhante. Porém, uma análise mais cuidada é reveladora de profundas diferenças no relacionamento das populações com o baldio num momento e noutro do tempo. Ao longo deste tempo a floresta entra e sai do baldio cumprindo apenas uma das suas funções (embora esta com elevada eficácia): a de desencadear o êxodo rural.