Pequenos ruminantes: tuberculose e outras doenças iceberg Artigo de Conferência uri icon

resumo

  • A tuberculose é uma doença que normalmente evolui de forma crónica e pode afetar tanto o homem como animais domésticos e selvagens. Assola a humanidade desde a pré -história, existindo descrições dela em papiros e foram mesmo encontradas lesões nodulares típicas em algumas múmias egípcias. A primeira referência de tuberculose animal data do ano 40 d.c., quando o escritor agronómico romano Lucius Junius Moderatus “Columella” relata a tuberculose pulmonar em bovinos. No que diz respeito à tuberculose caprina, já em 1884 Koch descreveu um caso de tuberculose numa cabra que apresentava cavernas pulmonares e lesões caseosas nos gânglios linfáticos bronquiais, fígado e baço. Os pequenos ruminantes, nomeadamente os caprinos, podem ser uma fonte de contágio de tuberculose para o homem, já que Mycobacterium bovis e Mycobacterium caprae, agentes etiológicos comuns da tuberculose caprina, já foram isolados em casos graves de tuberculose humana. Com a modernização da produção caprina a abordagem sanitária a esta espécie intensificou-se, e a tuberculose neste contexto passou de uma doença raramente diagnosticada, a uma das doenças crónicas (“iceberg”) mais importantes nos caprinos. De facto, apesar de não existirem dados oficiais da incidência ou prevalência, mesmo nos países mais industrializados, são vários os relatos da doença, tomando mesmo proporções elevadas em algumas regiões, como acontece em Murcia (Espanha). Em Portugal, Duarte e colaboradores (2008) referem, num estudo realizado entre 2002 e 2007, o isolamento de bactérias pertencentes ao complexo Mycobacterium tuberculosis efectuado em oito caprinos. Em sete desses casos isolou- se Mycobacterium bovis e em um caso Mycobacterium caprae. A título ilustrativo apresenta-se o estudo de dois casos de tuberculose caprina ocorridos em Trás – os – Montes. Inclui a descrição do quadro clínico, anatomopatológico e histopatológico, bem como alguns dados epidemiológicos relevantes. O quadro clínico observado caracterizava-se pelo aparecimento de tosse seca acompanhada por emaciação progressiva com duração de 4 a 6 semanas causando elevada mortalidade (> 50%) durante período em que ocorreram os surtos. Na necropsia foram encontradas lesões granulomatosas compatíveis com tuberculose, e o exame bacteriológico mostrou a presença de Mycobacterium caprae. A prova intradermotuberculinização simples foi realizada na exploração 1 a 58 animais e a 133 na exploração 2, com 50 (86,2%) considerados positivos na primeira exploração e 124 (93,2%) na segunda. Com base estes dados foi realizado o abate total em ambos os efetivos. O acompanhamento do abate permitiu observar diferentes quadros anatomopatologicos: lesões de complexo primário, completo e incompleto, nos pulmões e intestino, bem como alguns casos de tuberculose generalizada. O estudo histológico revelou também diferentes quadros: por vezes, granulomas com necrose de caseificação e calcificação distrófica central, rodeada por infiltrado celular mononuclear e em outros casos, os granulomas apresentavam escassa necrose de caseificação ou mesmo ausência da mesma, com predomínio de células mononucleares e células gigantes de tipo Langhans. Nos casos em que a caseificação era mais evidente, na coloração Ziehl-Nielsen a quantidade de bacilos observada era maior. Para além de uma análise crítica aos métodos de diagnóstico utilizados e às medidas de combate tomadas, sugerem-se ainda outras medidas de controlo e vigilância desta doença nos caprinos. São também discutidas outras doenças “iceberg” ou de evolução lenta em pequenos ruminantes nomeadamente a paratuberculose, lentivírus dos pequenos ruminantes, e adenomatose.

data de publicação

  • janeiro 1, 2020