A principal função de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETARs) é proporcionar uma redução da carga de contaminante presente nas águas, devendo ter por referência indicadores de sustentabilidade ambiental.
A avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma metodologia para quantificar o impacte ambiental associado a um produto, processo ou serviço sob a perspectiva do “berço ao túmulo”, pelo que na procura de uma gestão sustentável de Estações de Tratamento de Águas Residuais, a ACV torna-se uma ferramenta valiosa na avaliação dos impactes ambientais.
O objetivo deste estudo consistiu em investigar os potenciais impactes ambientais associados a uma típica ETAR urbana em Portugal, através da aplicação da metodologia da ACV.
Inicialmente, estruturou-se um inventário de ciclo de vida (ICV) da fase de exploração do sistema de tratamento, considerando a divisão da ETAR em três linhas: a líquida, a sólida e a gasosa. Juntamente com a avaliação dos potenciais impactes ambientais diretos e indiretos ligado ao sistema de tratamento, incluiu-se no estudo a análise dos impactes associados à gestão dos principais subprodutos da ETAR – as lamas desidratadas e o biogás, de modo a identificar as melhores opções.
De entre os principais resultados que compõem o atual desempenho da ETAR, os impactes ambientais mais significativos estão associados diretamente à linha líquida, devido às emissões de gases para a atmosfera no tratamento biológico e ao consumo de energia elétrica, e pelo destino das lamas desidratadas para a unidade de compostagem.
Relativamente ao modelo de gestão dos subprodutos, o uso do biogás para a produção de energia térmica/elétrica mostrou-se mais atrativa, tendo-se constatado que a geração de eletricidade foi capaz de suprir 4% da necessidade energética, além de diminuir os potenciais impactes da ETAR. A transformação das lamas em biofertilizante para aplicação no solo resultou em impactes menos significativos no desempenho global da ETAR. A opção da compostagem apresenta impactes mais relevantes quando comparada com a biofertilização, mas, mais viável por permitir obter um melhor produto final para uso no solo, refletindo-se em maiores benefícios ambientais, em particular contribuindo para a redução do potencial de eutrofização. Contudo, a presença de metais pesados nas lamas pode ser um fator limitante nestas duas opções de gestão.
O potencial de eutrofização mostrou-se como um dos principais indicadores para avaliação de impacte da ETAR, face à elevada poluição causada no ambiente hídrico, se as águas residuais não fossem tratadas. No presente estudo, constatou-se que 90% desta poluição é diminuída com as operações/processos atualmente aplicadas.
Neste sentido, com este estudo, foi possível compreender os efeitos que apontam para as principais contribuições que necessitam ser levadas em consideração ao analisar os impactes ambientais para diferentes indicadores em todo o ciclo de vida da ETAR.