Avaliação do uso de espectroscopia FTIR-ATR para a otimização da compostagem do bagaço de azeitona e sua repercussão nos custos económicos.
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resumo
Portugal é um dos maiores países produtores de azeite, com crescente relevância
socioeconómica e ambiental, onde a região de Trás-os-Montes é o segundo produtor nacional.
Esta região é caracterizada por pequenos olivais, geridos tradicionalmente, onde o bagaço de
azeitona (BA) é o principal subproduto do processo de extração do azeite, produzindo mais de
80.000 t/ano. O BA é caracterizado por ser pastoso, conter alto teor de humidade e ser fitotóxico,
não possuindo valor económico, tendo os lagares que assumir o custo de transporte até as
extratoras do azeite, pelo que urge procurar alternativas mais sustentáveis. O BA contém
elevado teor em C orgânico (75%), nomeadamente em forma de lignina, o que poderia
converter-lhe num recurso ideal para a elaboração de compostos de alta qualidade, mas o alto
teor de polifenóis poderia dificultar a atividade microbiana. A incorporação de compostos de
subprodutos agrários no solo, além de contribuir para a economia circular da região do interior,
ajuda a repor a perda de matéria orgánica que sofrem os solos de olival, além duma notável
melhoria de suas propriedades físico-químicas. Com o objetivo de otimizar e reduzir custos no
processo de compostagem de BA, apresentam-se neste trabalho resultados dum ensaio
experimental de compostagem a escala industrial durante 180 dias, tendo como matérias-primas
o BA, estrume de ovelha e um agente estruturante.
O ensaio permitiu testar o efeito da mistura das matérias-primas (assegurando C/N>40), doses
de agente estruturante e arejamento manual. Foram realizadas amostragens periódicas para
determinar humidade, densidade, granulometria, teor em cinzas, pH, CE, C total e N total, para
além das relações atómicas por análises elementais. A utilização de espectroscopia
infravermelha FTIR-ATR permitiu monitorizar as mudanças dos compostos orgânicos (bandas
de vibração a 2920, 1640, 1330, 1230 e 1100 cm-1) durante todo o processo da compostagem.
Os resultados preliminares mostram que a fase termófila foi atingida nos primeiros 10 dias,
mantendo-se 8 semanas até a fase de maturação. Perdas de peso de até 30% nos primeiros 30
dias, e razões C/N na ordem de 25 em 60 dias. Aos 120 dias, o composto tinha uma cor escura,
“bom cheiro” e uma razão C/N<20. Os espectros de infravermelhos mostraram uma rápida
perda de grupos alifáticos (degradação de ácidos gordos a 2920 cm-1) e um aumento substancial
de compostos azotados e carboidratos de origem microbiano (1100 cm-1) na fase inicial da
compostagem (primeiros 30 dias). A alteração das ligninas (1230 e 1330 cm-1) e a condensação
de cadeias de C (polimerização de polifenóis), ocorre numa fase intermedia de compostagem
(60 dias), o que reduz consideravelmente a fitotoxicidade do composto, e acelera o tempo da
compostagem de 9 a 4 meses, sendo possível abaratar os custos da compostagem e sua aplicação
no solo poderá incrementar o teor de matéria orgânica do solo