Estrutura populacional e variabilidade genética da abelha ibérica (Apis mellifera iberiensis) revelada por marcadores do adn mitocondrial e nuclear: implicações na actividade apícola
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resumo
A conservação da diversidade genética das populações locais de abelhas é fundamental à
sustentabilidade da atividade apícola. Primeiro, porque a diversidade genética é a matéria-prima
sobre a qual a seleção (natural ou artificial) atua, permitindo a adaptaçãoo das abelhas às cada
vez mais rápidas alteracões ambientais (poluição, pesticidas, novos patogénios e parasitas) e às
exigências de uma atividade apícola cada vez mais competitiva. Segundo, porque a perda de diversidade genética pode conduzir à consanguinidade e à redução do valor adaptativo das colónias
podendo-se traduzir em perdas de produtividade, maior número de machos diploides e menor
resistência aos parasitas e patogénios, entre outros efeitos.
A compreensão dos padrões espaciais de diversidade genética, e dos processos históricos
e contemporâneos que têm moldado essa diversidade ao longo dos tempos, é crucial para uma
melhor gestão e conservação da abelha ibérica (Apis mellifera iberiensis). Apesar dos inúmeros
estudos conduzidos na Península lbérica nas últimas décadas, os padrões e processos de diversidade genética são ainda mal compreendidos. De facto, a grande variedade de marcadores genéticos (morfolugia, alozimas, ADN mitocondrial, microsatélites) que tem sido utilizada tem revelado
padrões incongruentes de diversidade fazendo da abelha ibérica a mais complexa subespécie na
ampla área de distribuição geográfica da espécie Apis mellifera.
Nesta comunicação serão apresentados os resultados de um estudo que proporcionará a
caracterização mais completa da abelha ibérica jamais realizada através de uma amostragem
de elevada resolução quer a nível geográfico quer a nível do seu genoma. Para tal utilizaram-se simultaneamente marcadores mitocondriais (região intergénica tRNAleu-cox2) e nucleares
neutrais testados (311 SNPs), e avancadas ferramentas analíticas numa coleção de 711 colónias
amostradas ao longo de três transeptos ibéricos (costa Atlântica, região central e costa Mediterrânica). Os resultados deste estudo confirmam a elevada complexidade e forte estruturação da
abelha ibérica refletida (i) no cline com orientação sudoeste-nordeste formado pelas linhagens
evolutivas Africana (A) e da Europa Ocidental (M) e (ii) no acentuado contraste da composição genética das populações do Mediterrâneo e do Atlântico. Em oposição a outros trabalhos genéticos,
neste estudo o padrão recuperado pelos SNPs é congruente com a variação materna. Por último,
este estudo mostra que o grau de introgressão da linhagem C na abelha ibérica é negligenciável,
contrastando fortemente com a outra subespécie da linhagem M, Apis mellifera mellifera. As
eventuais implicacões destes resultados na atividade apicola serão discutidas numa perspetiva de
preservação da integridade genética da abelha ibérica.